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História e Cultura

Desde os primórdios

Já na pré-história os seres humanos encontraram na Arrábida condições favoráveis para se estabelecerem. Ao longo dos séculos, a ocupação humana desta região deixou alguns vestígios que chegaram até aos dias de hoje. Ainda no paleolítico, a Arrábida foi ocupada por grupos de Homo erectus que se estabeleceram no litoral, principalmente entre o cabo Espichel e Sesimbra. Na lapa de Santa Margarida e na gruta da Figueira Brava, encontram-se vestígios do Paleolítico Inferior (400.000 a 200.000 a.C.)

 

Da idade do Bronze aos tempos medievais

A Roça do Casal do Meio, situada nas terras do Risco, Concelho de Sesimbra, é uma sepultura da idade do Bronze. Na Idade do Ferro, a localização privilegiada desta região com a desembocadura do Sado favoreceu a implantação de um entreposto comercial. Assim, em várias zonas da região surgiram feitorias fenícias e povoados fortificados.

Também os romanos, por volta do ano 25 a.C., reconheceram o valor deste mar especial e concentraram-se na exploração e transformação dos recursos marinhos. Nas praias da foz do Sado e também no Creiro, perto do Portinho da Arrábida, existiram centros fabris de salga de peixe e preparação de garum (composto de restos de peixe, ovas, sangue, mariscos e moluscos macerados em sal, a que se adicionavam molhos), que depois de embalados em ânforas eram exportados para os centros de consumo do império.

No século VIII, instalaram-se os árabes e a sua presença deixou marcas na toponímia e nas praças fortificadas de Sesimbra e Palmela, onde se ergueram os castelos medievais. Já em 1165, sob o reinado de D. Afonso Henriques é conquistado o Castelo mourisco, o qual mais tarde volta a ser reconquistado pelos mouros. Em 1200 D. Sancho I, reconquistou Sesimbra e construiu um novo castelo. Em 1217, Alcácer do Sal foi reconquistada pelos cristãos passando povoação de Setúbal a beneficiar da proteção da Ordem de Santiago, momento a partir do qual voltou a prosperar.

 

A pesca marca a história e cultura da região

Em Sesimbra, a partir do século XIV, a população do burgo do castelo passou a dedicar-se à pesca e gradualmente foi-se fixando na zona da antiga Póvoa da Ribeira. A pesca passa a ganhar cada vez mais importância. Nos reinados de D. Dinis, D. João I e D. João II a atividade piscatória foi fortemente incentivada.No século XV, a realeza e a nobreza fixaram residência sazonal em Setúbal que se torna um popular local de veraneio para a aristocracia. Ao longo deste século Setúbal desenvolve várias atividades económicas ligadas à indústria naval e ao comércio marítimo. Em 1514 D. Manuel I deu novo foral à Vila de Sesimbra no qual, entre outras medidas, aparecem disposições sobre a pesca. No século XVI a pesca atingiu considerável importância sendo referida em diversos documentos da época. Foi também neste século que foi fundado por frades Franciscanos o Convento da Arrábida.

Para além da pesca, de Sesimbra partiram mareantes na época dos descobrimentos, em caravelas para cuja construção terá contribuído a construção naval local. Também Setúbal sofreu um grande desenvolvimento na época dos descobrimentos. Do seu porto partiu D. Afonso V e o seu exército, à conquista de Alcácer Ceguer. Durante o século XVII, no reinado de D. João IV, foram construídos diversos fortes ao longo da costa de Sesimbra. Paralelamente Setúbal atingiu o seu auge de prosperidade quando o sal assumiu um papel preponderante como moeda de troca durante e após as guerras da Restauração da Independência. Esta prosperidade foi interrompida com o terramoto de 1755.

A partir de finais do século XIX, a vila de Sesimbra transformou-se num dos mais importantes portos de pesca do país e também Setúbal conseguiu retomar a prosperidade que tinha perdido, com a chegada do caminho-de-ferro, o início das fábricas de conservas, e a crescente fama das laranjas e do moscatel.

 

Atualidade

Na segunda metade do século XX existiram grandes transformações no sector da pesca. O desenvolvimento tecnológico e a concessão de apoios financeiros aos pescadores com vista à aquisição de embarcações modernas, permitiram a pesca em locais mais distantes. Nos anos 60, desenvolveu-se na Arrábida uma atividade económica extremamente importante: a apanha de Gelidium sesquipedale. Trata-se de uma alga vermelha a partir da qual se produz agar (uma substância gelatinosa utilizada para fins científicos e alimentares). Nos anos 90 Sesimbra era o porto responsável por cerca de 8% do volume total de pescado desembarcado no Continente. Além da pesca, a exploração dos recursos geológicos teve também um papel importante na economia desta zona.

Nos últimos 30 anos o turismo tem tido um enorme impacto na região, influenciando também os setores do comércio, restauração e marítimo-turísticas. Tem exercido ainda grande influência sobre o setor da construção, com um aumento da procura de habitações secundárias na região, alterando a paisagem.

 

Ciência no Parque Marinho, um caminho antigo

A história do Parque Marinho está intrinsecamente ligada à história da oceanografia em Portugal. Ainda no século XIX o zoólogo português José Vicente Barbosa du Bocage (1823-1907) revolucionou a oceanografia internacional ao demonstrar a captura de uma esponja marinha Hyalonema lusitanicum a uma profundidade superior aos 500 metros, que na época se julgava ser o limite a partir do qual não existiria vida, de acordo com a “teoria azóica”. Também o rei D. Carlos realizou várias campanhas oceanográficas na região, sendo pioneiro no estudo do canhão de Setúbal.

O interesse em desvendar os mistérios do Oceano levou a novos estudos sobre a biodiversidade marinha durante a primeira metade do século XX. Muitas das inovações sobre a fauna marinha da região de Setúbal chegaram aos nossos dias graças ao trabalho de Luís Gonzaga do Nascimento (1882-1970). Naturalista setubalense e filho de um armador de pesca, iniciou desde cedo uma vasta coleção de espécimes marinhos que conservava com mestria, pelo que se tornou numa referência internacional na matéria. Em 1955 o espólio foi doado à cidade de Setúbal (Junta da Província da Estremadura) constituindo-se o “Museu Oceanográfico e de Pescas de Setúbal”.

Já na segunda metade do século XX, o desenvolvimento do mergulho com escafandro autónomo deu aos cientistas uma nova perspetiva do fundo do mar. Em Portugal, destacou-se o contributo do trabalho do Professor Luiz Saldanha para a investigação e ensino da biologia marinha, tendo parte deste trabalho sido desenvolvido na costa da Arrábida. Desde então, e até aos dias de hoje, o salto tecnológico que se deu possibilitou um grande avanço nas ciências marinhas, com muitos trabalhos científicos a serem desenvolvidos neste mar especial.